
Nem todos se deram conta do real significado da homenagem póstuma que o American Institute of Architects conferiu ao Professor Samuel Mockbee ao conceder-lhe em março, a Medalha de Ouro de 2004, a maior honraria que um arquiteto pode receber nos EUA. Ela é o reconhecimento de que o conjunto das obras do premiado impôs sua marca pessoal na teoria e prática da arquitetura. O maior feito do arquiteto Samuel Mockbee, Sambo como é conhecido, não foi entretanto um conjunto de obras fantásticas, monumentais e as vezes até inexeqüíveis, como podia-se esperar quando se examina a lista dos laureados anteriores, entre eles Frank Lloyd Wright e I.M. Pei.
O conteúdo de sua obra é mais prosaico. Sem mostrar o mesmo glamour das obras de seus pares tem, no entanto, significação muito mais profunda. A escolha de seu nome significa o reconhecimento oficial da importância crescente da filosofia que fundamenta o Rural Studio, instituição criada por ele e que começa a despertar um tremendo interesse na comunidade internacional ligada a arquitetura e ao urbanismo sustentáveis.
Sambo, e outros professores da Universidade Auburn no Alabama, fundaram em 1993 o Estudio Rural, pretendendo incrementar as condições de vida nas comunidades carentes do chamado "cinturão negro", berço da cultura algodoeira no sul dos estados unidos. Ao mesmo tempo visava introduzir e desenvolver no ensino da arquitetura, uma maior preocupação com o social e com o meio ambiente.
Os objetivos iniciais do Estúdio Rural eram principalmente o projeto e construção de casas e instalações comunitárias, promovendo uma sinergia entre a universidade, produtora de idéias e a própria comunidade beneficiada por elas.
O processo começa com a imersão dos profissionais e estudantes nas atividades comunais, o que serve para capacitar os técnicos a superarem opiniões malconcebidas e a projetarem imbuídos da convicção moral de estar servindo a comunidade. Eles deixam o conforto do campus para estudar, viver e trabalhar na sala de aula da comunidade. Esta experiência os ajuda a serem mais sensíveis e confiarem mais no poder transformador do que fazem, do que em abstratas e pré-concebidas boas intenções.
Esta premiação do AIA consagra este programa como importante indutor de mudanças sociais através da formação de arquitetos e urbanistas e da participação comunitária.
Bom, a história de Hassan Fatty é muito rica e merece um artigo à parte, mas o que é importante destacar aqui é que hoje, 31 anos depois da publicação de seu livro, a premiação de Sambo demonstra que os ideais hassanianos estão cada vez mais vivos e que isto foi reconhecido na própria pátria da globalização, e mais, por uma instituição que usualmente prioriza uma arquitetura monumental, onde uns poucos luminares com acesso a verbas gigantescas produzem edificações esculturais para uma minoria. Nem tudo está perdido, algo está mudando.
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