Simplificar a vida! Este conceito esteve muito em voga após a publicação de um livro de Elaine St. James, que lista uma série de ações que a ajudaram e a seu marido a melhorar sua qualidade de vida. Apesar de St. James acertar em alguns movimentos necessários ao perfeito equilíbrio homem-natureza, o todo cheira um pouco a auto-ajuda, o que é mau, pois generaliza atitudes que devem ser individuais, assumidas segundo o papel de cada um na sociedade em que vivemos. Para mim simplificar a vida significa aumentar a consciência de quem somos e porque somos, pensamos e agimos assim, e à partir deste conhecimento assumir as decisões corretas, fazer escolhas alinhadas com o nosso eu interior e em total harmonia com a natureza. Decisões acertadas, simples, pacíficas, sem competições com quem quer que seja.
Mas St. James aborda uma assunto que me fez lembrar Spinoza, quando coloca que ‘existe uma crença(sic) estabelecida de que se deve ter um carro cada vez maior, uma casa idem e que férias boas são aquelas onde se vai mais longe de nossa casa e que por causa disto, cada vez trabalhamos mais para conseguir aquilo que não temos tempo de desfrutar.’
Spinoza, o filósofo e fabricante de lentes óticas, que tirava deste último ofício o suficiente para uma vida simples e frugal que ele encorajava nos seus escritos e que lhe permitia tão somente - o que é
muito, se considerarmos o quase sempre ubiquos ‘less is more’ de Mies- se sentir livre de compromissos e dívidas. Ele afirmava que tudo na vida é passivo de transformações e que todas as coisas que ocorrem ao homem são "bens" ou "males" na exata medida em que este se deixa estimular por elas. O negócio é chegar a uma nova maneira de viver, onde se compreenda o mecanismo destes estímulos livrando-nos de desejos supérfluos relacionados a matéria e que nos são impostos no dia a dia, permitindo-nos opor-se a eles e nos concentrar em objetivos mais elevados. Spinoza enfatiza que riquezas e honras, por exemplo, são importantes apenas se forem vistas como intrumentos para se atingir uma felicidade maior. Senão, elas absorvem nosso espírito e nos enclausulam num círculo vicioso de ter mais riquezas e honras, impedido-nos até mesmo de usufruir do que já foi conquistado. Para Spinosa a forma correta de viver em harmonia e em equilíbrio é aquela que nos leva a viver de acordo com a harmonia maior da natureza, com aquela alegria fundamental que nos concede o poder de um pensar feliz, pacífico e sem culpas. Isto passa por reconhecer que estamos automatizados, condicionados a modelos que na realidade são sinônimos de sofrimento, onde não podemos exprimir nossa individualidade e onde não passamos de uma peça conveniente para a sociedade.
Bom, isto tudo é a base filosófica do nosso tema. Mas por favor! O homem vem realmente assumindo posturas cada vez mais idiotizantes. Como um cidadão pode pensar que ele tem o direito de todo o dia, entrar no seu automóvel na garagem de sua casa, circular livremente pelas vias públicas, e ainda por cima na velocidade que lhe aprouver, chegar no trabalho e estacionar tranquilamente na porta de seu escritório? Esta falácia tem que ser urgentemente removida da mente das pessoas. Por que não o fazemos? Estamos esperando chegar à situação como a descrita no conto ‘Auto-Estrada do Sul’ de Julio Cortázar? Neste conto publicado no livro Todos os Fogos o Fogo, de 1966, há um engarrafamento monstruoso que dura dias a fio, e é um relato típico da obra de Cortázar, sempre buscando a redescoberta do sentido humano, perdido neste mundo contraditório. Parece-me que há uma forte possibilidade da vida imitar a ficção. Aguardemos, ou, muito melhor, vamos arregaçar as mangas e nos por a trabalhar duro antes que cheguemos finalmente a este mundo caótico e perturbador.
E na arquitetura, na construção civil, é a mesma coisa. O homem levou séculos para aperfeiçoar os métodos construtivos de sua morada, adequando-a ás condições climáticas locais e veio e o Estilo Internacional com a noção de que os preceitos da arquitetura moderna seguiam uma linha única, divulgando e reproduzindo pelo mundo um modelo arquitetônico de aplicação supostamente universal. Um dos princípios básicos estabelecidos foi o de rejeitar toda a arquitetura anterior ao movimento, o que aliado à abundância energética do pós guerra, resultou num modelo arquitetônico campeão em desperdício energético. Mas isto é uma outra história...
Apesar de tudo ainda acredito e desejo para todos um ótimo 2010!
Mas St. James aborda uma assunto que me fez lembrar Spinoza, quando coloca que ‘existe uma crença(sic) estabelecida de que se deve ter um carro cada vez maior, uma casa idem e que férias boas são aquelas onde se vai mais longe de nossa casa e que por causa disto, cada vez trabalhamos mais para conseguir aquilo que não temos tempo de desfrutar.’
Spinoza, o filósofo e fabricante de lentes óticas, que tirava deste último ofício o suficiente para uma vida simples e frugal que ele encorajava nos seus escritos e que lhe permitia tão somente - o que é
muito, se considerarmos o quase sempre ubiquos ‘less is more’ de Mies- se sentir livre de compromissos e dívidas. Ele afirmava que tudo na vida é passivo de transformações e que todas as coisas que ocorrem ao homem são "bens" ou "males" na exata medida em que este se deixa estimular por elas. O negócio é chegar a uma nova maneira de viver, onde se compreenda o mecanismo destes estímulos livrando-nos de desejos supérfluos relacionados a matéria e que nos são impostos no dia a dia, permitindo-nos opor-se a eles e nos concentrar em objetivos mais elevados. Spinoza enfatiza que riquezas e honras, por exemplo, são importantes apenas se forem vistas como intrumentos para se atingir uma felicidade maior. Senão, elas absorvem nosso espírito e nos enclausulam num círculo vicioso de ter mais riquezas e honras, impedido-nos até mesmo de usufruir do que já foi conquistado. Para Spinosa a forma correta de viver em harmonia e em equilíbrio é aquela que nos leva a viver de acordo com a harmonia maior da natureza, com aquela alegria fundamental que nos concede o poder de um pensar feliz, pacífico e sem culpas. Isto passa por reconhecer que estamos automatizados, condicionados a modelos que na realidade são sinônimos de sofrimento, onde não podemos exprimir nossa individualidade e onde não passamos de uma peça conveniente para a sociedade.
Bom, isto tudo é a base filosófica do nosso tema. Mas por favor! O homem vem realmente assumindo posturas cada vez mais idiotizantes. Como um cidadão pode pensar que ele tem o direito de todo o dia, entrar no seu automóvel na garagem de sua casa, circular livremente pelas vias públicas, e ainda por cima na velocidade que lhe aprouver, chegar no trabalho e estacionar tranquilamente na porta de seu escritório? Esta falácia tem que ser urgentemente removida da mente das pessoas. Por que não o fazemos? Estamos esperando chegar à situação como a descrita no conto ‘Auto-Estrada do Sul’ de Julio Cortázar? Neste conto publicado no livro Todos os Fogos o Fogo, de 1966, há um engarrafamento monstruoso que dura dias a fio, e é um relato típico da obra de Cortázar, sempre buscando a redescoberta do sentido humano, perdido neste mundo contraditório. Parece-me que há uma forte possibilidade da vida imitar a ficção. Aguardemos, ou, muito melhor, vamos arregaçar as mangas e nos por a trabalhar duro antes que cheguemos finalmente a este mundo caótico e perturbador.
E na arquitetura, na construção civil, é a mesma coisa. O homem levou séculos para aperfeiçoar os métodos construtivos de sua morada, adequando-a ás condições climáticas locais e veio e o Estilo Internacional com a noção de que os preceitos da arquitetura moderna seguiam uma linha única, divulgando e reproduzindo pelo mundo um modelo arquitetônico de aplicação supostamente universal. Um dos princípios básicos estabelecidos foi o de rejeitar toda a arquitetura anterior ao movimento, o que aliado à abundância energética do pós guerra, resultou num modelo arquitetônico campeão em desperdício energético. Mas isto é uma outra história...
Apesar de tudo ainda acredito e desejo para todos um ótimo 2010!
PS.: A foto que ilustra o post é de uma casa de adobe centenária, moradia do Sr. Battaglia um pequeno produtor rural no interior do município de Paty do Alferes (RJ). Ele diz que quando nasceu ela já existia e na sua infância nela funcionava o armazém local. Ele tem cerca de 90 anos. Repare como o adobe se encontra em perfeito estado. O emboço é que não se sustenta, mas isto é por falta de informação. Ele andou utilizando cimento portland para revestir o adobe, e isto é um erro. É o que eu digo, as técnicas vernaculares foram descartadas e mesmo os contemporâneos delas não se lembram. Por outro lado vejam a preocupação com a reciclagem: as latas aproveitadas como vasos e jardineiras. Fantástico o cuidado demonstrado com as pequenas coisas.
